Cientistas estão criando abelhas-drones para combater crise de polinização

saiba-o-que-esta-por-tras-das-misteriosas-sociedades-das-abelhas-2

Pequenos drones revestidos de um pegajoso gel poderiam, um dia, reduzir a pressão das populações de abelhas para o transporte de pólen planta a planta, segundo informações da Live Science. Atualmente, cerca de três quartos das plantas florestais do mundo e 35% das culturas alimentares dependem dos insetos para a polinização, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA.

As abelhas são consideradas alguns dos polinizadores mais prolíficos, embora a existência delas esteja declinando em todo o mundo. No mês passado, o Serviço de Peixes e Vida Selvagem dos EUA (U.S. Fish and Wildlife Service), pela primeira vez, listou a espécie nativa em ameaça de extinção.

Com isso em mente, pesquisadores no Japão deram o primeiro passo para a criação de mini robôs que poderiam ajudar a reduzir o trabalho dessas polinizadoras. Junto a isso, os cientistas criaram uma forma de gel pegajoso que permite aos robôs colher o pólen das plantas e depositar em outra para ajudá-las a se reproduzir.

Segundo o pesquisador e químico do projeto, Eijiro Miyako, do Instituto de Ciência Industrial Avançada, em Tsukuba, todo o projeto ainda está em prova de conceito. “Espera-se que alguns robôs sejam usados para experimentos de polinização”, disse.

A inovação do estudo, publicado este mês na revista Chem, é o gel iônico. De acordo com Miyako, ele foi resultado de uma tentativa fracassada de criar líquidos eletricamente condutores e acabou sendo esquecido em uma gaveta por quase uma década. Mas, oito anos depois, ele ainda não tinha secado – algo que ocorreria com a maioria dos géis. Então, após assistir a um documentário sobre polinização, teve a ideia.

Na verdade, deixei cair o gel no chão e notei que absorvia muita poeira”, contou ele à Live Science. “Então tudo começou a se ligar na minha mente”.

Os cientistas então testaram como o produto poderia ser útil na polinização. Para isso, colocaram gotas do material na parte de trás de formigas, deixando-as durante uma noite dentro de uma caixa cheia de tulipas. No dia seguinte, descobriram que os insetos tinham transportado mais grãos de pólen do que fazem naturalmente.

Em outro experimento, os pesquisadores descobriram ainda que era possível integrar no gel compostos fotocromáticos, que mudam de cor quando expostos à luz UV ou branca. Então, colocaram o novo material em moscas vivas, dando a elas a capacidade de mudar de cor. Com isso, eles poderiam finalmente ver algum tipo de camuflagem adaptável para proteger os polinizadores de predadores.

Enquanto a descoberta pode melhor a capacidade de outros insetos carregarem pólen, também é uma solução potencial para a queda da população de abelhas. “É muito difícil usar organismos vivos para realizações práticas reais, então eu decidi mudar minha abordagem e usar robôs”, disse.

Segundo ele, ainda existem certas limitações, como por exemplo, a bateria, reduzir os custos de produção e uma melhor forma de pilotar o drone. Para isso, ele acredita que o GPS e inteligência artificial poderiam um dia ser usados para guiar automaticamente esses polinizadores robóticos.

Vídeo

 

 

 

Pesquisadores obtêm condensado de Bose-Einstein com o composto cloreto de níquel

019118665-ex00

O condensado de Bose-Einstein – muitas vezes referido como o “quinto estado da matéria” [sendo os quatro primeiros o sólido, o líquido, o gasoso e o plasma] – é obtido quando um conjunto de átomos tem sua temperatura resfriada quase ao zero absoluto. Nessas condições, as partículas já não possuem energia livre para se movimentarem umas em relação às outras, e algumas delas, denominadas bósons, passam a compartilhar os mesmos estados quânticos, tornando-se portanto indistinguíveis. Assim, obedecem à chamada estatística de Bose-Einstein, aplicada a partículas idênticas. No condensado de Bose-Einstein, as partículas se comportam como se fossem uma única partícula.

Concebido e calculado teoricamente pelo físico indiano Satyendra Nath Bose (1894 – 1974) e por Albert Einstein (1879 – 1955) em 1924, o condensado de Bose-Einstein veio a ser produzido experimentalmente sete décadas mais tarde, por Eric Cornell, Carl Wieman e Wolfgang Ketterle, em 1997, utilizando um gás de rubídio ultrarresfriado. Por essa realização, os três cientistas receberam o Prêmio Nobel de Física de 2001.

Pesquisa realizada por uma colaboração internacional produziu recentemente o equivalente de um condensado de Bose-Einstein com o composto cloreto de níquel. E – o que é ainda mais importante – obteve, a partir do tratamento teórico dos dados, um conjunto de equações que podem ser aplicadas a outros materiais não caracterizados como condensados de Bose-Einstein.

O físico Armando Paduan Filho, professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, participou do estudo, no âmbito do projeto temático “Pesquisas em novos materiais envolvendo campos magnéticos intensos e baixas temperaturas”, apoiado pela FAPESP. Artigo relatando o estudo foi publicado em janeiro de 2017 na Physical Review B: “Nuclear magnetic resonance study of the magnetic-field-induced ordered phase in the NiCl2-4SC(NH2)2 compound”.

“Em temperaturas próximas do zero absoluto e na presença de um campo magnético muito intenso, o composto cloreto de níquel comporta-se como um condensado de Bose-Einstein. E isso faz como que seja possível descrever as propriedades de um grande conjunto de átomos por meio de uma única equação, uma única função de onda”, disse Paduan Filho à Agência FAPESP.

Tal possibilidade viabiliza cálculos que de outra maneira seriam impraticáveis. Por exemplo, sabe-se que o momento magnético de um corpo macroscópico pode ser calculado pela composição dos momentos magnéticos dos átomos que o constituem. Mas, na prática, essa operação se torna inviável, dada a enorme quantidade de átomos e interações envolvidos. “Um meio de resolver o problema é usar as estatísticas da mecânica quântica. Neste caso, devemos pensar os átomos não como pontos, ou sólidos, mas como ondas”, afirmou o pesquisador.

Nos bósons, isto é, nos materiais que obedecem à estatística de Bose-Einstein, todas as ondas associadas às supostas partículas que os constituem são iguais. Por outro lado, quanto menor a temperatura de um material, maiores os comprimentos de onda de suas partículas constituintes. Assim, nas vizinhanças do zero absoluto, os comprimentos aumentam até todas as ondas se tocarem. “Passamos a ter então uma situação em que todas as ondas são iguais e todas as ondas se tocam. Com isso, podemos representar todas elas por uma única onda. Emissões de energia, propriedades elétricas, magnéticas, térmicas, luminosas etc. podem ser calculadas por meio de uma única função de onda”, resumiu Paduan Filho.

Estudando o cloreto de níquel, os pesquisadores constataram que, resfriando o material quase ao zero absoluto e submetendo-o a um forte campo magnético, seus átomos passavam a se comportar como bósons e o conjunto podia ser caracterizado como um condensado de Bose-Einstein. “O fato de os átomos poderem ser percebidos como ondas é um dado experimental, que corrobora a teoria. Agora, dizer que formam um condensado de Bose-Einstein vem da aplicação de um instrumento teórico para explicar as propriedades observadas”, ponderou o pesquisador.

Pesquisas com o cloreto de níquel focadas nas propriedades magnéticas vêm sendo realizadas há mais de uma década no Instituto de Física da USP. “Há materiais cujos átomos exibem momentos magnéticos desordenados na temperatura ambiente, mas que se ordenam quando resfriados. Descobrimos que tal ordenação não ocorre no cloreto de níquel, mas que, em temperaturas muito baixas e na presença de fortes campos magnéticos, ele apresenta um momento magnético induzido”, informou Paduan Filho.

Os estudos avançaram por meio de colaborações internacionais, entre elas, com o National High Magnetic Field Laboratory, de Los Alamos, Estados Unidos, e com o Laboratoire National des Champs Magnétiques Intenses, de Grenoble, França. Essas parcerias possibilitaram aos pesquisadores alcançar temperaturas da ordem de um milikelvin [um milésimo de grau acima do zero absoluto] e utilizar técnicas como a ressonância magnética nuclear (NMR, na sigla em inglês) para investigar a matéria na escala atômica e subatômica. Foi assim que a caracterização dos átomos ultrafrios de cloreto de níquel como condensado de Bose-Einstein pôde ser realizada.

“Concomitantemente com a experiência, nossa colaboração produziu também um consistente trabalho teórico. E chegamos a um conjunto de equações que, com algumas transposições, podem ser aplicadas a outros materiais que não sejam condensados”, enfatizou o pesquisador. O emprego dessas equações oferece grandes perspectivas, não apenas para a pesquisa básica da estrutura da matéria, mas também para uma futura aplicação tecnológica, uma vez que um grande número de equipamentos utilizados na vida cotidiana funciona com base em propriedades magnéticas.

‘Jacaré laranja’ chama atenção em lago nos EUA

jacare

Segundo especialista, animal pode ficado com tal cor por ter se abrigado durante o inverno em uma tubulação de aço que estava oxidado.

Um aligátor (jacaré americano) chamou atenção para apresentar uma cor alaranjada nas margens de um lago em Hanahan, no estado da Carolina do Sul (EUA).

Jay Butfiloski, do Departamento de Recursos Naturais da Carolina do Sul, disse que o animal pode ficado com tal cor por ter se abrigado durante o inverno em uma tubulação de aço que estava oxidado.

Especialistas disseram que que o jacaré vai trocar de pele em breve e provavelmente voltará à cor normal.

 

Consumo de proteína de origem vegetal ou animal pode ajudar a manter músculo saudável

indice

Proteína contribui para a saúde dos músculos independentemente de sua origem, segundo estudo.

Dietas com alto consumo de proteína, tanto de fonte animal quanto de fonte vegetal, podem ajudar a manter os músculos grandes e fortes ao longo da vida, de acordo com um novo estudo.

Pessoas com maior consumo geral de proteínas têm massa muscular maior e quadríceps (músculo da frente de coxa) mais forte, segundo uma das autoras da pesquisa, Kelsey Mangano, da Universidade de Massachusetts em Lowel.

Proteínas são encontradas na carne vermelha, peixe, aves, ovos, leite e derivados, grãos e nozes. O Instituto de Medicina recomenda que adultos consumam cerca de 0,8 gramas de proteína por quilo do peso do corpo a cada dia. Seriam 56 gramas por dia para uma pessoa sedentária que pesa 70 kg.

Já se sabe que a proteína protege a densidade dos ossos, a massa muscular e a força, mas não estava claro se a proteína deveria vir de fontes alimentares específicas, segundo os pesquisadores. Por exemplo: pessoas que consomem proteínas de carne têm mais benefícios do que aqueles que consomem proteínas vegetais?

Para responder a essa pergunta, os pesquisadores usaram informações de 2.986 homens e mulheres de 19 a 72 anos, que responderam a questionários sobre sua alimentação entre 200 e 2005.

Cerca de 82% dos participantes consumiam uma quantidade ideal de proteína. Suas dietas foram classificadas quanto ao consumo de proteína em seis padrões: fast food e laticínios gordurosos; peixe; carne vermelha; frango; laticínios com baixo nível de gordura e legumes.

Os cientistas observaram se os padrões de dieta dos participantes estavam ligados à sua massa muscular, força muscular e densidade dos ossos.

Eles concluíram que o consumo de proteína estava ligado à massa e força muscular, mas não encontraram ligação entre consumo de proteína e densidade óssea.

Massa e força muscular eram mais altas em pessoas que consumiram mais proteína, em comparação às pessoas que consumiram menos. Os resultados não variaram de acordo com a origem da proteína: uma pessoa que obteve uma quantidade grande de proteína por meio de carne vermelha se beneficiou da mesma forma que uma pessoa que obteve a proteína de legumes.

Segundo Mangano, é uma boa notícia para pessoas com restrições alimentares, que significa que elas podem se beneficiar do consumo de proteínas de diferentes fontes.

O estudo foi publicado no “The American Journal of Clinical Nutrition”.

Mudanças climáticas ameaçam sobrevivência do pinguim africano, alerta estudo

gay-animals-and-evolution_1

Pinguins africanos ficaram confusos sobre onde encontrar comida. População jovem deve reduzir em 50% em algumas das áreas mais afetadas da costa da Namíbia e da África do Sul.

As mudanças climáticas e a pesca excessiva deixaram os jovens pinguins africanos, espécie em risco de extinção, confusos sobre onde encontrar comida, e eles estão morrendo em grande quantidade em consequência disso – disseram pesquisadores nesta quinta-feira (9).

 

Um estudo publicado na revista científica “Current Biology” descreve uma situação difícil para os pinguins africanos, cuja população jovem deve reduzir em 50% em algumas das áreas mais afetadas da costa da Namíbia e da África do Sul, segundo projeções.

“Nossos resultados mostram que os pinguins africanos ficam presos, buscando comida nos lugares errados, devido à pesca e às mudanças climáticas”, disse o autor principal do estudo, Richard Sherley, da Universidade de Exeter e da Universidade de Cape Town.

O problema aparece quando os pinguins jovens deixam suas colônias pela primeira vez e viajam longas distâncias, procurando no oceano sinais de áreas com abundância de peixes e plânctons.

Esses sinais incluem áreas do mar com baixas temperaturas e alta clorofila, o que indica a presença de plâncton e, provavelmente, de peixes que se alimentam deste, como sardinhas e anchovas.

“Estas eram pistas confiáveis para águas ricas em presas, mas as mudanças climáticas e a pesca industrial reduziram as reservas de peixes nesse sistema”, disse Sherley. “Esses sinais agora podem levá-los a lugares onde esses peixes, a principal presa dos pinguins, são escassos”, acrescentou.

Satélite

Os pesquisadores usaram satélites para rastrear pinguins africanos jovens de oito locais em toda sua área de reprodução.

Eles descobriram que muitos pinguins estavam ficando presos no Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela, uma área que se estende do sul de Angola até Cape Point, no Cabo Ocidental da África do Sul.

A região sofre há décadas com a sobrepesca e as mudanças ambientais, que reduziram a quantidade de peixes. “Os pinguins ainda vão para locais onde o plâncton é abundante, mas os peixes não estão mais lá”, completou Sherley. Os pinguins jovens que vão parar ali com frequência morrem de fome.

“Seus números de reprodução estão cerca de 50% mais baixos do que estariam se eles encontrassem seu caminho para outras águas, onde o impacto humano é menos grave”, explicou o estudo.

Os pinguins africanos são considerados uma espécie ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), com cerca de 50 mil exemplares restantes na Namíbia e na África do Sul, devido principalmente à escassez de alimentos.

Bagas de árvore da pimenta do Brasil desarmam bactérias multiresistentes

21382572

 

Investigadores de uma universidade norte-americana descobriram que as bagas da árvore da pimenta do Brasil (Schinus terebinthifolius) tornam inofensivas bactérias resistentes a antibióticos, o que pode contribuir para encontrar novos tratamentos para estas infecções.

Investigadores de uma universidade norte-americana descobriram que as bagas da árvore da pimenta do Brasil (Schinus terebinthifolius) tornam inofensivas bactérias resistentes a antibióticos, o que pode contribuir para encontrar novos tratamentos para estas infeções.

As bagas da árvore, característica do Brasil e invasora em algumas regiões do mundo, “contêm um extrato com o poder de desarmar a perigosa bactéria Staphylococcus aureus, resistente a antibióticos”, refere uma informação hoje divulgada pela universidade Emory, em Atlanta, estado norte-americano da Georgia.

O estudo, publicado na revista especializada Scientific Reports, “pode ter potencial para novas formas de tratamento e prevenção de infeções resistentes a antibióticos, um problema mundial crescente”.

Os curandeiros tradicionais da Amazónia usaram durante centenas de anos a árvore da pimenta do Brasil para tratar infeções da pele e dos tecidos moles.

No estudo hoje divulgado, os cientistas separaram os elementos químicos das bagas e testaram-nos contra a bactéria para descobrir o mecanismo medicinal da planta, relatou a coordenadora do trabalho Cassandra Quave.

A equipa da investigadora do centro para o estudo da saúde humana e do departamento de dermatologia da faculdade de medicina da universidade demonstrou que a substância extraída das bagas inibe a formação de lesões na pele de ratinhos infetados com ‘staphylococcus aureus’, responsável por infeções cutâneas e respiratórias graves.

A substância não mata a bactéria, mas reprime um gene que permite que as suas células comuniquem entre si. Ao bloquear esta comunicação, é possível evitar que as células consigam uma atuação coletiva.

“Essencialmente desarma a bactéria MRSA [staphylococcus aureus], evitando que segregue as toxinas que utiliza como armas para danificar os tecidos”, explicou Cassandra Quave, acrescentando que o sistema imunitário normal tem assim mais oportunidade de curar a ferida.

Matar as bactérias com medicamentos está a contribuir para aumentar o problema da resistência aos antibióticos, já que algumas delas, mais fortes, podem sobreviver a estes medicamentos e proliferar, transmitindo nos seus genes essa resistência.

Este trabalho segue-se a outro de 2015, também do grupo de Cassandra Quave, segundo o qual as folhas do castanheiro europeu também contêm elementos que desarmam a mesma bactéria, sem aumentar a resistência aos medicamentos.

No ano passado, as Nações Unidas referiram as infeções multirresistentes como sendo “uma ameaça fundamental” para a saúde e segurança globais, citando estimativas que apontam para que causem, pelo menos, 700 mil mortes por ano, podendo aumentar para 10 milhões em 2050.

Pesquisa destaca diversificação em víboras

timthumb-php

Das 392 espécies de serpentes conhecidas no Brasil, 63 são peçonhentas ou venenosas e se dividem em quatro famílias. A família Viperidae, das chamadas víboras, é representada no país por 30 espécies de jararacas, jararacuçus, urutus e também pela cascavel.

A família Viperidae não é exclusiva da América do Sul. Jararacas e cascavéis estão no grupo de serpentes peçonhentas de maior sucesso evolutivo. São 329 espécies conhecidas espalhadas por quase todos os continentes. Acredita-se que o grupo evoluiu na Ásia/África e que posteriormente migrou para as Américas. Quando foi que o grupo surgiu e qual a dinâmica de diversificação que caracterizou a radiação desses organismos são questões que começam a ser elucidadas.

Um extenso estudo molecular que acaba de ser publicado estabelece a mais detalhada filogenia da família Viperidae. Resultados do trabalho foram publicados no periódico Molecular Phylogenetics and Evolution.

A primeira autora é a pós-doutoranda Laura Rodrigues Vieira de Alencar, do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP). Participam ainda Tiago Quental e Marcio Martins, professores do Departamento de Ecologia do IB, além de Felipe Grazziotin e Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da USP, e cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

“Para entendermos a história evolutiva da família Viperidae era imprescindível obter uma filogenia mais robusta e completa, tanto em termos de número de espécies quanto de genes. Usando esta nova filogenia, poderíamos então conhecer os padrões de diversificação e estabelecer datações para os eventos de divergência entre as linhagens de Viperidae”, disse Alencar.

Os autores utilizaram registros fósseis em combinação com dados moleculares e modelos estatísticos para estimar as datas de eventos de separação entre as espécies.

A nova análise filogenética foi feita a partir de dados moleculares de 263 espécies, que correspondem a 79% dos membros da família Viperidae. Entraram no levantamento as três subfamílias: Viperinae (71 das 98 espécies viventes), Crotalinae (191 de 232) e Azemiopinae (1 em 2), e todos com exceção de um gênero dessas serpentes.

Foram ainda incluídos dados moleculares de 97 espécies de outras 11 famílias de serpentes. Toda essa montanha de dados foi analisada sob a luz de 11 marcadores genéticos localizados tanto no DNA mitocondrial como no DNA nuclear.

“O principal desafio do trabalho foi combinar em uma única análise todos os dados gerados por diversos pesquisadores ao redor do mundo”, disse Grazziotin, um dos responsáveis pela análise genética.

Esses dados (sequências de DNA) encontram-se disponíveis em bancos de dados on-line, como o Genbank (mantido pelo National Center for Biotechnology Information) e o BOLD (mantido pelo International Barcode of Life).

“Foi um verdadeiro garimpo de informações, onde tentamos utilizar apenas dados confiáveis. Esse foi o principal desafio para construir a matriz molecular que serviu de base para todas as análises”, disse Grazziotin.

O trabalho tem apoio da FAPESP e faz parte do Projeto Temático “Origem e evolução das serpentes e a sua diversificação na região neotropical: uma abordagem multidisciplinar”, coordenado por Zaher.

Ancestral e diversificação

O registro fóssil utilizado no trabalho incluiu Haasiophis terrasanctus, que viveu no Oriente Médio há quase 100 milhões de anos. A maior de todas foi Titanoboa cerrejonensis, uma megassucuri de 13 metros que viveu na Venezuela há 57 milhões de anos. O trabalho usou ainda dados de espécies que viveram na Índia, nos Estados Unidos e na Alemanha dos períodos Eoceno e Mioceno, entre 55 milhões e 23 milhões de anos atrás.

“Realizamos um grande esforço para datar as relações filogenéticas encontradas, mas mantivemos sempre uma visão conservadora, levando em conta as dúvidas em relação à posição dos fósseis utilizados na calibragem da análise, bem como as incertezas quanto à própria topologia da árvore”, disse Grazziotin.

As datações obtidas têm uma margem de incerteza considerável. No entanto, isto não se deve ao fato de terem sido usados apenas 11 marcadores moleculares. O uso de um número maior não necessariamente melhoraria o intervalo de confiança das datações.

“É muito difícil saber se aumentando o número de loci [local fixo em um cromossomo onde se localiza determinado gene ou marcador genético] encontraríamos um resultado mais refinado, ou até mesmo diferente. Estudos utilizando genômica [centenas de loci] têm mostrado que algumas relações entre os seres vivos são realmente difíceis de resolver, mesmo trabalhando com o genoma quase completo dos organismos analisados”, disse Grazziotin.

As datações da nova filogenia sugerem que o ancestral dos viperídeos divergiu de seu grupo irmão em torno de 64,5 milhões de anos atrás, no Paleoceno.

Isso ocorreu imediatamente após a grande extinção do fim do Cretáceo, que há 66 milhões de anos eliminou 70% das espécies nos continentes, entre elas os dinossauros. Os dados sugerem, portanto, que a linhagem das Viperidae descende de uma espécie que conseguiu sobreviver à extinção em massa.

A datação da filogenia também indica o momento em que o ancestral da família Viperidae começou a se diversificar em novas linhagens. Foi entre o final do Paleoceno e o período Eoceno médio, entre 59,9 e 40,4 milhões de anos atrás.

As subfamílias Viperinae e Crotalinae surgiram entre o Mioceno médio e o Oligoceno tardio, entre 49,9 e 28,3 milhões de anos atrás. Até aquele momento, a evolução das Viperidae estava circunscrita ao Velho Mundo. Foi apenas na passagem do Oligoceno ao Mioceno que seus primeiros imigrantes invadiram o Novo Mundo, entre 31 e 20,9 milhões de anos atrás.

Quando o fizeram, passaram por um momento de rápida diversificação e radiação geográfica. Uma vez ocupados todos os principais nichos ecológicos amplamente disponíveis, o ritmo de especiação reduziu e se mantém mais baixo até hoje.

“Esperávamos observar uma mudança na dinâmica da diversificação no momento em que a subfamília Crotalinae surgiu, a única subfamília caracterizada por possuir as fossetas loreais, órgãos termorreceptores localizados entre o olho e a narina dessas serpentes”, disse Alencar.

As fossetas loreais detectam variações de calor no meio ambiente. Por isso ajudam os crotalíneos a encontrar presas, fugir de predadores ou achar locais para a termorregulação. Serpentes são animais de sangue frio que precisam se aquecer ao sol algumas horas por dia para elevar a temperatura interna do corpo e assim elevar o metabolismo, antes de sair à caça, por exemplo.

“A existência das fossetas fornece a essas serpentes uma vantagem adaptativa em relação às demais subfamílias. Achávamos que o surgimento de tal órgão teria provocado a rápida diversificação da subfamília, mas não foi o que descobrimos”, disse Alencar.

“De fato, houve uma mudança no padrão de diversificação. Só que ela não ocorreu no momento do surgimento das fossetas, mas alguns milhões de anos mais tarde. Ao que parece, a evolução das fossetas não foi o suficiente para estimular a diversificação. Outros fatores devem também ter influído, como, por exemplo, a expansão das florestas no leste Asiático e a invasão do novo mundo”, disse a pesquisadora.

Quental explica que o grupo está investigando agora como a evolução do hábito arborícola poderia ter influenciado as taxas de especiação e diversificação morfológica nos viperídeos.

“Os resultados sugerem que a evolução do hábito arborícola resulta em uma diversificação morfológica mais limitada, enquanto que linhagens terrestres apresentam uma maior variação morfológica. Por outro lado, as taxas de especiação de linhagens arborícolas e terrestres são similares, o que sugere que as limitações morfológicas impostas pelo hábito arborícola não afetam a dinâmica de diversificação de espécies”, disse.

Mais de 90% dos acidentes com serpentes peçonhentas no Brasil acontecem com membros da família Viperidae. O restante dos acidentes ocorre com as diversas espécies da família Elapidae, a das cobras-corais.

O artigo Diversification in vipers: Phylogenetic relationships, time of divergence and shifts in speciation rates (doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.ympev.2016.07.029), de Laura R.V. Alencar, Tiago B. Quental, Felipe G. Grazziotin, Michael L. Alfaro, Marcio Martins, Mericien Venzon e Hussam Zaher, pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S105579031630185.
 

Teste com terapia genética restaura audição em ratos surdos

terapia-genc3a9tica-recupera-audic3a7c3a3o-de-ratinhos-surdos2

Cientistas usaram vírus sintético para corrigir defeito auditivo nos animais; eles afirmam que isso pode ajudar a desenvolver terapia semelhante em humanos.

Cientistas americanos fizeram testes com ratos surdos e descobriram uma forma de restaurar parte da audição deles com uma terapia genética que consideram um “marco”.

Os ratos foram capazes de ouvir um pequeno sussurro após o tratamento. Segundo os pesquisadores, a capacidade de restaurar parte da audição dos animais abre caminho para descobrir tratamentos semelhantes para humanos em um “futuro próximo”.

O estudo, divulgado na publicação científica Nature Biotechnology, corrigiu erros que faziam com que os pelos sensíveis ao som ficassem defeituosos.

Os pesquisadores usaram um vírus sintético para cortar e corrigir o defeito.

“Isso é sem precedentes, esta é a primeira vez que nós vimos esse nível de restauração de audição”, disse o pesquisador Jeffrey Holt, do Boston Children’s Hospital.

Defeito

Cerca de metade das formas de surdez acontecem por causa de um erro no DNA.

Nos experimentos no Boston Children’s Hospital e na Escola de Medicina de Harvard, os ratos tinham uma disfunção genética chamada síndrome de Usher.

Nesses casos, há instruções imprecisas para a formação dos pelos dentro da orelha.

Em orelhas saudáveis, conjuntos de células de pelo externas ampliam ondas sonoras e, em seguida, células de pelo internas convertem os sons para sinais elétricos que vão para o cérebro.

Os pelos normalmente formam essas linhas em forma de V.

Mas com a síndrome de Usher essas linhas ficam desorganizadas – o que afeta gravemente a audição.

Os pesquisadores desenvolveram então um vírus sintético que fosse capaz de “infectar” a orelha com as instruções corretas para a formação de células de pelos.

Experimentos mostraram que, com isso, ratos profundamente surdos puderam ouvir cerca de 25 decibéis – o volume de um sussurro.

“Nós ficamos extremamente surpresos por ver tamanho nível de resgate da audição, e nós ficamos impressionados com o que conseguimos”, disse o pesquisador Gwenaelle Geleoc à BBC.

Existem cerca de 100 diferentes tipos de defeitos genéticos que podem causar a perda de audição – e cada um exige tipos diferentes de terapia.

“Nós realmente conseguimos ter uma compreensão da ciência básica e da biologia da orelha, então agora estamos no momento de traduzir esse conhecimento e aplicá-lo em pacientes humanos em um futuro muito próximo.”

Opção segura?

Uma das grandes questões a serem esclarecidas agora é se o vírus sintético é algo saudável – ele foi feito com base em um vírus adenoassociado, que já foi usado em outras formas de terapia genética.

Os pesquisadores também querem entender se o efeito é duradouro – eles sabem que funciona por pelo menos seis meses.

Há ainda questões sobre a “janela de oportunidades”. Enquanto a terapia funcionou em ratos tratados no nascimento, ela falhou com aqueles que receberam o tratamento dez dias depois.

Ralph Holme, diretor de pesquisa no Instituto Ação Para Perda de Audição, se disse entusiasmado com o trabalho, mas fez ressalvas.

“Essa pesquisa é bastante motivadora. Mas há um receio de ainda possa ser tarde demais usar essa terapia logo após o nascimento com bebês com síndrome de Usher, já que eles são mais desenvolvidos do que ratos recém-nascidos.”

“A tecnologia pode ser mais eficiente para tratar formas progressivas de perda de audição”, completou.

 

Dona da Vespa cria ‘mala ambulante’ autônoma para levar compras

gita-piaggio-objetos

Robô pode carregar objetos de seu dono ou ser utilizado para entregas. Sua velocidade máxima é de 35 km/h e capacidade de carga de 20 kg.

 

A corrida pelos carros autônomos está fortemente em andamento com montadoras e empresas de tecnologia apontando para 2020 como um ano em que já estarão rodando nas ruas. Mas não serão apenas os carros a utilizar a tecnologia, é isso que aposta a Piaggio Fast Forward, empresa de tecnologia ligada ao mesmo dono da marca de scooters Vespa.

Longe das terras italianas, este braço do Grupo Piaggio se estabeleceu nos Estados Unidos e acaba de apresentar o Gita, que deve ser lido como “Jeeta”. Esta criação utiliza tecnologia autônoma e tem como função carregar itens ou compras de seu dono, o qual pode seguir.

De acordo com a empresa, o robô também pode ser programado para rodar sozinho, utilizando mapas 3D das localidades. Ele possui uma inteligência que o faz criar mapas das redondezas, à medida que vai andando. Assim, pode ser também uma opção para fazer entregas.

Com propulsão elétrica, esta “mala ambulante” pode alcançar a velocidade máxima de 35 km/h e levar cerca de 20 kg de carga. O robô utiliza rodas de 26 polegadas que giram sobre si mesmo.

Impressionante roupa de mergulho “invisível” repele tubarões e outros peixes

roupa-de-mergulho-invisivel-para-os-peixes-e-tubaroes-962x500

Ao nadar em mar aberto, cada movimento humano envia sinais invisíveis para peixes e outras criaturas marinhas.

Atraídos pela nossa presença, esses tubarões, lagostas, arraias, enguias, peixes em geral e até mesmo alguns golfinhos, se aproximam por meio da detecção de sinais musculares mínimos, como a simples batida de um coração ou atividade cerebral.

 

No entanto, um novo traje de mergulho pode permitir que os mergulhadores deslizem pela água sem serem detectados. A roupa impede que esses sinais sejam emitidos, agindo como uma espécie de submarino com uma “capa da invisibilidade”. Logo, e a partir do conceito da gaiola de Faraday, ela permite que os mergulhadores cheguem perto de grandes predadores, como tubarões, que muitas das vezes usam essa habilidade para detectar a presença de pessoas.

 

O artefato foi testado pelo biólogo marinho Ricky Elliott, durante uma viagem de pesquisa no Havaí, revelando uma série de fotografias impressionantes em que estava bem próximo a uma grande variedade de animais.

 

A batida de um coração ou contração de um músculo envia um sinal elétrico espontâneo, assim os animais conseguem detectar esses movimentos através de uma habilidade biológica chamada eletrorrepcção (ou eletropercepção). Logo, o traje chamado de Stealth Wetsuit, inventado pela empresa de tecnologia HECS Aquatic, com sede na Nova Zelândia, bloqueia esses sinais e permite a aproximação cautelosa das pessoas aos animais.

O princípio de funcionamento do traje baseia-se no conceito de uma gaiola de Faraday, inventada pelo cientista Michael Faraday em 1836. Ele descobriu os princípios por trás da blindagem eletromagnética pelo fato de que, uma superfície de material condutor eletrizada tem um campo elétrico nulo, mesmo em um campo elétrico externo. Logo, uma gaiola de Faraday impede a radiação eletromagnética de penetrar o seu exterior, protegendo o que está dentro de pulsos estáticos, eletromagnéticos, ondas de rádio e outros.

 

Assim a HECS Aquatic construiu uma rede de fibra de carbono condutora que atenua os campos elétricos dentro da roupa de mergulho. De acordo com o site oficial da empresa, o traje “é feito com uma malha de fibra de carbono condutora projetado para reduzir o seu campo de energia elétrica”.

 

O Stealth Wetsuit estará disponível a partir de 399 dólares (R$ 1.300 na cotação atual) em países da Europa, bem como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá e México.

 

Vídeo